segunda-feira, 14 de julho de 2014

Silêncio felino - Porque gatos agem assim quando estão doentes.


Ilustração Tiago Elcerdo
Todos os que amam gatos sabem bem que em eles podem ocultar de seus donos sinais de que estão com algum probleminha de saúde que precisa ser averiguado. Neste artigo a jornalista e veterinária,  Silvia Corrêa,  faz um relato que serve como alerta para que fiquemos mais atentos aos nossos bigodinhos queridos.
EsquadrãoPet


Silêncio felino
Sílvia Corrêa

O telefone tocou tarde naquela noite. Dificilmente seria para boas notícias. Do outro lado da linha, Xu se dizia preocupada com Miau.
Xu é uma amiga de longa data. Ganhou o apelido quando eu estava com dengue e ela se mudou para o sofá da minha casa. Moribunda em minha cama, eu ouvia, à distância, ela conversar com Mel Katita, minha dominante vira-lata: "Cachuna, por favor, deixa eu dormir". E Mel, eu soube depois, rosnava, instalada sobre seu travesseiro, impedindo que ela se deitasse. Foi assim que Paloma virou Cachuna e, com o tempo, Xu.
Naquela noite, ela dizia que Miau, seu gato de cinco anos, estava estranho. No mundo veterinário, há uma regra de ouro: dono de gato, em geral, tem razão. Se ele diz que o animal está estranho, procure o que está errado.
Juntas, percebemos que Miau não tinha feito xixi naquele dia. A caixa estava bem limpa. Ou ele não estava produzindo urina ou não conseguia escoá-la.
Sugeri que Xu o internasse. No hospital, a pior notícia: os rins do jovem Miau estavam parando. Em 48 horas, apesar de incansáveis tentativas, Miau morreu.
Miau sempre foi um gato arisco. Vaciná-lo, quando foi adotado, foi tão estressante que decidimos abandonar o protocolo de reforço anual.
Quando as visitas chegavam, desaparecia. Não se sabia se tomava água direito: ele preferia a do box ou da pia. Era difícil saber se comia bem: só se alimentava se o pote estivesse no chão, o que permitia que a cachorra da casa também devorasse sua ração.
Assim, com um comportamento tipicamente felino, Miau foi escondendo os sinais da doença até que fosse irreversível. Na natureza, essa é uma forma de os gatos esconderem a fragilidade dos predadores, característica que os acompanha apesar dos milhares de anos de domesticação. Difícil é fazer os donos não se sentirem culpados e aceitarem a ideia de que muitos gatos acabam vítimas do próprio silêncio felino.

Fonte:
Folha de São Paulo. 



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