quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sol é vida. Mas, calor intenso pode matar.

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 Altas temperaturas ambientais podem prejudicar muito e até matar cães e gatos. Você está cuidando corretamente de seus amigos de quatro patas neste verão escaldante?

Regina Macedo*

Muitas pessoas, mesmo amando seus cães e gatos, parecem não saber que seus amigos peludos precisam de cuidados diferenciados em dias com altíssimas temperaturas. Podemos observar humanos, acalorados, usando regata ou top, short, chinelos, boné, passeando com seus cães em horários de pico do sol, entre 11 horas e 15 horas, parecendo não perceber que o asfalto e mesmo as calçadas estão fervendo (em certos dias, a cobertura asfáltica chega a amolecer sob o sol). O corpo dos peludos pequeninos permanece a poucos centímetros do solo escaldante. E, sendo cães de porte grande ou pequeno, as almofadas das patas (coxins) podem sofrer queimaduras graves. E muita gente ainda corre junto com seu animal – alguns amarram o cachorro à bicicleta “exercitando-se” sob o sol do meio-dia (!!!).
Até protetores de animais, com toda sua boa vontade e coração enorme, muitas vezes não observam que alguns locais e horários são completamente inadequados para a montagem de feirinhas de doação. Muitos animais são colocados em cercados e a única “proteção” é uma tenda de nylon – a Associação Brasileira de Dermatologia condena o uso desse tipo de barraca como proteção em dias ensolarados, pois o nylon branco deixa passar 95 por cento das radiações ultravioleta. Em alguns eventos promovidos para beneficiar animais salvos do abandono e disponíveis para adoção, os cercados e as gaiolas contendo filhotes e adultos ficam diretamente no chão de cimento.
O mesmo acontece em pontos de venda de filhotes. Além de cercadinhos e caixas de transporte, os vendedores utilizam-se até dos porta-malas de veículos para oferecer cães e gatos. Em se tratando da cidade de São Paulo, existe a Lei 14.483/07, de autoria do vereador Roberto Tripoli (PV) e que regula o comércio e as feiras de doação de cães e gatos. Esta lei determina regras e posturas para canis e gatis comerciais e para o comércio de filhotes em pet shops. Também trata das feiras de doação e proíbe o comércio de animais em áreas públicas.
Portanto, aqui na Capital, se filhotes são mantidos em situação inadequada de alojamento ou manejo em canis, gatis ou pet shops, é importante denunciar ao CCZ e exigir o cumprimento da legislação, ou seja, a adequação do criador ou do ponto de venda às determinações legais.  Já a venda de animais em praças, ruas, avenidas, em gaiolas ou em porta-malas de veículos, trata-se de comércio absolutamente clandestino, proibido pela Lei 14.483/07. No caso desse comércio ilegal em áreas públicas, cabe às Subprefeituras agirem para coibir e denúncias também são fundamentais.
Observe-se ainda que a manutenção e exposição de animais em condições inadequadas de alojamento e manejo podem caracterizar a prática de maus-tratos, incidindo na Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98) e, no caso de cães e gatos, práticas que impliquem em maus-tratos ferem ainda a lei municipal 13.131/01, também de autoria do vereador Tripoli e que trata da propriedade responsável desses pets. Informe-se, conheça a legislação, pois o arcabouço legal é fundamental na tarefa (árdua) de defender a vida animal.
Os animais não podem falar a nossa linguagem, portanto temos o dever de usar nosso discernimento, observar as reações dos bichos e, principalmente, conhecer as características físicas e biológicas, as necessidades vitais e mentais de cães e gatos, que por mais humanizados que estejam, são animais de espécies diversas da nossa. Depois de milhares de anos de convivência, ainda esbarramos em muito “achismo”, tantas vezes provocando sofrimento, males físicos e psicológicos e até levando cães e gatos a óbito.

CONHECENDO PARA CUIDAR MELHOR
Selecionei algumas informações relevantes sobre as altas temperaturas e possíveis prejuízos físicos para cães e gatos, sem me ater a outros pontos e cuidados relativos a problemas típicos do verão, como a maior incidência de ectoparasitas e picadas de insetos. Observo que os trechos de sites e da literatura estão em itálico e alguns comentários meus permanecem em fonte normal. Ao final, a bibliografia está listada para consultas. Veja:
O médico veterinário, Marcelo Quinzani, em entrevista à Scientifc American, publicada pelo UOL, explica:
“Os cães não transpiram como nós. A respiração é a única forma de controlar o processo de refrigeração e manutenção da temperatura corpórea ideal. Por isso, quando submetidos a calor intenso ou situações de estresse, os cães podem não ter condições de perder calor e entram num processo conhecido como hipertermia. O primeiro sinal que o animal precisa de resfriamento é quando se mostra muito ofegante. No quadro de hipertermia, a temperatura corporal pode atingir até 42º C, provocando vômitos, coagulação intravascular disseminada, edemas pulmonares, paradas cardíaca e até mesmo chegar ao estado de coma” (…)
“Os cães braquicéfalos ─ que têm o focinho curto, como os Bulldogs, Pugs, Boxers, Shitsus, Lhasas Apso, Boston entre outros, sofrem mais com as altas temperaturas devido à anatômica dificuldade de respirar e perder calor. Por isso não devemos nunca submeter os cães a situações de intenso calor ambiental como banho e tosa, passear em horários muito quentes, ficar dentro de carros parados ou em viagem longas, e outras situações de estresse. (…) Nessa época do ano os animais devem ficar em ambiente agradável e sombreado, com água fresca disponível.”
“O câncer de pele é outra preocupação. Cães e gatos que têm a pele muito clara – ou rosada – quando submetidos à exposição ao sol também podem desenvolver sarcoma, que geralmente ocorre nas áreas sem pêlo. As maiores vítimas são os animais albinos, gatos brancos, boxers brancos ou animais que, não totalmente brancos, tenham a ponta de nariz, orelhas, o entorno dos olhos e abdômen despigmentados” (...) “Esses animais não devem tomar banhos de sol, mas se a exposição for inevitável deve-se usar filtro solar nessas áreas”.

LESÕES CEREBRAIS E ÓBITO

E do site da WSPA-Brasil (Sociedade Mundial de Proteção Animal):
“Os animais sentem o calor da mesma forma que nós, mas especialmente os cães e gatos não possuem glândulas sudoríparas espalhadas pelo corpo, somente algumas glândulas nas regiões dos coxins (almofadas das patas) e nas narinas. Portanto, trocam calor com o ambiente principalmente através da ofegação”.
“Em dias muito quentes, nem sempre conseguem fazer uma troca satisfatória dessa maneira, principalmente se estiverem sob exercício intenso e se estiverem em um local muito quente, como um carro fechado sob o sol do meio dia”.
(Lembre-se que em um veículo fechado, sob o sol, sobretudo carros de cor escura, a temperatura do interior pode chegar entre 75 e 100 graus centígrados. Já houve casos de bebês humanos que vieram a óbito, esquecidos pela família no interior de automóveis – nesses episódios, as mídias fazem estardalhaço. As mortes de cães e gatos em automóveis não atraem jornais, emissoras de rádio e TV, mas são freqüentes).
“Muitos cães que saem para passear nas horas mais quentes do dia acabam ficando exauridos mais rapidamente que o normal, e se o seu responsável não perceber os primeiros sintomas do aumento da temperatura corpórea, esses animais podem desenvolver a chamada Hipertermia Fatal ou “Heat Stroke”. 

Sobre os sintomas da hipertermia, o site da WSPA esclarece:
“Respiração rápida, hipersalivação, saliva espessa, mucosas de coloração vermelho escura (cor de tijolo), tremores musculares, vômitos, diarréia, falta de coordenação motora (andar cambaleante) e até perda de consciência, desmaios e convulsões. Esses sinais também podem ocorrer com gatos que estiverem viajando em carros sem ar-condicionado, ou fechados em locais quentes, sem ventilação, como caixas de transportes”.
E como o humano responsável pelo animal deve agir? A WSPA deixa evidente que a ação deve ser rápida e incluir a busca de um médico veterinário:
“Esses sinais devem ser identificados rapidamente pelo responsável e primeiramente retirar o animal do ambiente quente ou da exposição direta ao sol, resfriar as patas e a região do pescoço e cabeça com toalhas molhadas ou água fresca. Se possível, levar o animal imediatamente ao veterinário, evitando usar água muito gelada ou gelo, pois o resfriamento rápido também pode ser prejudicial. Ofereça a ele água fresca, mas não o force a tomar líquidos principalmente se estiver inconsciente ou convulsionando”.
“No veterinário vai ser imediatamente instaurado o tratamento apropriado à base de oxigênio terapia e fluido terapia intravenosa com aplicação de medicamentos específicos, como corticosteróides e glicose. Se o animal já estiver convulsionando, mantenha-o em local baixo e acolchoado até chegar ao veterinário. Lembre-se: essa é uma condição que necessita de cuidados médicos emergenciais que só o veterinário pode oferecer. Se não for possível levar o animal imediatamente ao veterinário, promova o resfriamento gradual do animal até ser possível seu deslocamento para a clínica”. 

OBSERVE, MUDE HÁBITOS
“Para prevenir esse grave quadro, deve-se evitar passear com o animal nas horas mais quentes do dia. Nunca deixe seu cão sozinho dentro de carros com os vidros fechados, mesmo em dias não tão quentes”.
“Evite exercícios rigorosos ou caminhadas longas em dias quentes, e opte sempre por caminhar em áreas com sombra e nunca em áreas com sol direto, pois o chão pode estar muito quente e causar queimaduras nas patas. Ofereça sempre água fresca ao longo do trajeto e não se esqueça de ficar atento a qualquer desses sinais, principalmente em animais chamados braquicefálicos, como os bulldogs, pugs e boxers”.
“Evite usar roupinhas nessas épocas do ano e procure tosar cães muito peludos ou que possuam sub-pêlo. Se possível, ligue o ar-condicionado ou ventilador nos ambientes muito quentes”.
 
“Muitos cães que passam pela hipertermia se recuperam totalmente nas primeiras horas após o tratamento ser instituído, outros demoram mais tempo para se recuperar e outros podem ficar com danos cerebrais. Alguns podem até falecer, daí a importância da prevenção”.

HIDRATAÇÃO
No livro “Bom pra Cachorro!”, que trata da importância das atividades físicas para os cães, a médica veterinária Regina Rheingantz Motta explica: “a quantidade de água que um cão deve consumir por dia varia em função de vários fatores, como porte, temperatura, umidade relativa do ar, tolerância ao calor, tipo de atividade física exercida, tipo de alimentação e temperamento. Cães ansiosos e agitados geralmente ofegam mais.”
“Os cães podem perder até 6% do seu peso em líquidos até terem a feliz idéia de beber água. Essa perda não é tão aparente como no ser humano, porque o cão não fica molhado, suando em bicas, como nós. Eles não possuem glândulas sudoríparas na pele, e contam apenas com uma pequena quantidade delas nos coxins (dedos das patas). A perda significativa de água ocorre pela salivação e pela respiração. Durante o exercício, esses mecanismos aceleram-se para diminuir a temperatura corpórea interna”.
“Assim como grande parte dos seres humanos, nem sempre eles se lembram de procurar água. Cabe a nós a tarefa de estimulá-los a se hidratar corretamente”. (...) “Não é apenas após a atividade física que devemos oferecer-lhes água. A hidratação antes, durante e após o exercício é fundamental”. Nesse ponto, Motta observa que cães de grande porte não devem tomar água em excesso antes de se exercitarem, pois são mais predispostos à torção gástrica. Lembra ainda que é fundamental o dono do cão ou o passeador levar água durante o passeio e oferecê-la ao animal, podendo ainda optar por água de coco.
A autora ensina que os isotônicos utilizados por atletas humanos não mostram eficácia para os cães, pois estes não suam pela pele e assim não perdem quantidades significativas de sais: “o uso de bebidas esportivas isotônicas utilizadas em humanos pode agravar estados severos de desidratação em vez de ajudar”. Em momentos de muito calor, Motta aconselha que se molhe o corpo do cão. Observa ainda que a excitação com os exercícios (ou com o passeio) e o cansaço podem diminuir a sensação de sede. Portanto, o humano tem que estar atento ao seu bicho.
E cães que praticam exercícios intensos ficam com o organismo repleto de toxinas, exigindo água suficiente para eliminá-las, sob pena de sofrerem sérios danos metabólicos. Água também é importante para que os animais consigam manter a correta temperatura do corpo. “Perdas hídricas entre 8 e 10 por cento podem provocar a morte de um cão”, afirma Regina Motta.

CÂNCER DE PELE VITIMA ANIMAIS
Está cientificamente comprovado que os animais de pele e pelagem clara são mais suscetíveis a câncer de pele e outros problemas dermatológicos. E a milionária indústria pet conseguiu atender esta demanda do mercado, lançando um protetor solar específico para animais. Em pesquisas na internet, podemos encontrar indicações relativas ao uso, em animais, de protetores solares fabricados para humanos. No entanto, nos rótulos desses produtos destinados a humanos, recomenda-se evitar contatos com a boca e os olhos e sabemos que é difícil evitar que um cão ou gato lamba o protetor aplicado. Assim, antes de se decidir pelo uso de um produto desses (inclusive protetores fabricados especificamente para animais), é fundamental o aconselhamento do médico veterinário que cuida de seu amigo de estimação.
Só não vale cortar o sol da vida de seu pet, pois os raios solares são fundamentais para a síntese da vitamina D. E os veterinários também recomendam a exposição antes das 10 e depois das 16 horas. Até filhotes precisam de sol, principalmente porque estão formando seus ossos. Quanto às praias, os cães podem ficar expostos a certas doenças e em muitas delas a presença de animais é proibida. Vale aquela boa conversa com o veterinário e também informar-se sobre as regras e leis próprias de cada cidade.
Conforme informações do Portal Terra:
"Cachorros e gatos peludos estão mais protegidos. Porém, todas as regiões que são claras (rosadas) e que apresentam pouco pelo ou total ausência deles são mais sensíveis e normalmente ficam expostas. É fundamental usar o protetor no focinho, nas orelhas, no abdômen e na bolsa escrotal", disse a veterinária Cleiser Kurashima, coordenadora de marketing da Pet Society, marca que comercializa produtos com FPS 30 para animais”.
“A veterinária lembra que cães como boxer albino, pit bull red nose, cão da crista chinês e os gatos da raça sphynx são alguns dos que mais sofrem com a ação do sol”.
Alguns textos apontam inclusive para a necessidade de uso constante de protetor solar nos animais muito expostos ao sol, e não somente durante os passeios. Já em reportagem publicada pelo jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, em dezembro de 2008, outro alerta diz respeito aos gatos:
“A veterinária da Clínica Mania de Gato, Marúcia de Andrade Cruz, chama a atenção para a alta incidência de câncer em gatinhos de pelagem clara ou com predominância de pele branca no nariz e nas orelhas, onde há menos pêlos. Ao redor dos olhos é bem comum surgir câncer de pele”. Segundo esta profissional, a indicação para os gatos também é observar os horários melhor para o banho de sol e aplicar o protetor solar várias vezes ao dia, quando eles ficam muito expostos.

BANHO E TOSA
Nas pet shops e outros estabelecimentos de banho e tosa para cães e gatos, o movimento explode no verão. As tosas são importantes também para facilitar a observação de possíveis infestações de pulgas e carrapatos. Mas, tosas radicais podem deixar a pele totalmente exposta aos raios de sol. Assim, deve-se considerar a chamada “tosa bebê”, onde a pelagem é somente rebaixada, mas permanece consistente para proteger a pele do sol intenso. O médico veterinário pode orientar cada caso especificamente, e a pessoa responsável pelo animal deve sempre colocar em primeiro lugar o bem-estar do bichinho, e não questões estéticas ou os cortes típicos da raça.
Ao pensarmos em pelagem, não podemos esquecer que, de forma bastante egoísta, nós humanos trouxemos para nosso País tropical, inclusive para as cidades dominadas pelo concreto e pelo asfalto, com baixíssimo índice de arborização, cães e gatos originários de países muito frios, inclusive regiões com neve. É o caso, por exemplo, do Husky Siberiano, Bernese Mountain Dog, São Bernardo, Akita, Chow Chow. Portanto, animais com pelagem própria e até constituição física para enfrentar situações de frio intenso (maior camada de gordura no corpo), sofrem no verão escaldante e merecem cuidados específicos.
Os responsáveis por animais dessas raças, quando conscientes do drama do calor, intensificam os banhos, a oferta de líquidos e frutas, providenciam ventiladores ou ar condicionado (só observe que o frio intenso propiciado por alguns aparelhos pode secar demais as vias respiratórias do animal). Outra preocupação é com animais de espécies que possuem, na cabeça, órgãos genitais ou no rabo, muitas “dobras”, que devem ser mantidas limpas e higienizadas.
Os proprietários ainda precisam ficar atentos aos procedimentos adotados em locais de banho e tosa, em relação, por exemplo, às altas temperaturas dos secadores. Os cães e gatos não conseguem verbalizar seu desconforto. Cabe aos donos observarem o banho, conversarem com os banhistas e, principalmente, ficarem atentos às reações do amigo peludo. Outro detalhe é a freqüência dos banhos, em geral, aumentada nos períodos de calor intenso. Excesso de banhos pode retirar a oleosidade natural da pele do animal, explicam os médicos veterinários.
O médico veterinário Marcelo Quinzani, da Pet Care, estabelecimento da Zona Sul de São Paulo, em entrevista ao portal G1, revela que o movimento de banho e tosa cresce em média 30 a 40 por cento em épocas de muito calor. E alerta: “As temperaturas da água e do secador não podem ser  muito altas para não provocar hipertermia. O banho estressa e o cachorro já pode ter a temperatura elevada por causa disso. Com água quente e secador, ele pode passar mal”, afirma o médico veterinário”.


*Regina Macedo é jornalista ambiental, São Paulo / SP reginamacedo@terra.com.br


Consultas:
1. Livro BOM PRA CACHORRO!, de Regina Rheingantz Motta, Ed. Gente, 2009.

2. UOL

3. WSPA

4. PORTAL TERRA

5. PORTAL G1


6. PORTAL G1

6. JORNAL GAZETA DO POVO – Curitiba/PR

7. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA

Um comentário:

  1. Informaçoes importantíssimas aos protetores e proprietários de animais. Não são todos os vets que alertam para esss coisas e as pessoas ficam sem saber.
    Bjs e parabéns pela excelente matéria!

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