Há algum tempo estava ensaiando para escrever esse texto, ou como dizem no interior "contar esse causo". E eis que há duas semanas quando me ligaram em um domingo ensolarado em pleno café da manhã, para me contar que uma colecionadora de animais continua a submeter suas vitímas a fome, dor, crueldade e loucura e que pseudos "protetores" não param de pedir a ela que pegue mais bichos, mesmo já tendo sido denunciada às autoridades da cidade e estando proibida de pegar sequer uma pulga, eu resolvi que tinha chegado a hora.
Para quem ainda não conhece o tema sugiro uma olhada nesse material da ArcaBrasil:
http://www.arcabrasil.org.br/noticias/1101_hoarders.html
Durante dois anos morei em Pinheiros um bairro badalado e bem conhecido de SP. Logo que me mudei para lá descobri que na mesma quadra em que morávamos havia uma senhorinha, de voz mansa, olhinhos azuis e cabelos brancos que possuía muitos gatos.
Ao passarmos pela frente da casa dela em dias de sol viam-se muitos bichanos espalhados aproveitando o calor gostoso deitados com aquele jeito que só os gatos sabem fazer, e que nos causa uma invejinha boa no fundo da alma.
Mas o que nos chamou mesmo a atenção foi o fato da casa exalar um odor muito forte de urina de gatos.
Eis que um dia passando vi vários filhotinhos na janela e aproveitando que ela estava na frente da casa puxei conversa e fui logo dizendo que era apaixonada por gatos e já fui fazendo a pergunta básica:
e esses filhotes a senhora vai doar? e aí veio a resposta que confirmou minhas suspeitas:: nem sei de onde vieram, de repente apareceram na minha sala.
Outra pergunta: mas seus gatos não são castrados? a resposta: são muitos e eu não consigo me lembrar quais são castrados.
Aí eu falei que se ela conseguisse se lembrar, que tinhamos várias amigas gateiras lá no bairro e que nos dispunhamos a castrar os que faltavam e até a doar os filhotes se ela quisesse.
Como eu suspeitava que iria acontecer ela nunca me respondeu, e quando me via fugia rapidão.....imagino quantos filhotes ela não desovou pelas praças, jardins e cemitérios daquele bairro, porque os que eu havia visto sumiram de repente. E quantos destes filhotes não acabaram sendo mortos por maldade, fome ou mesmo atropelamentos?
Depois conversando com vizinhos pude observar os portões e muros das casas telados e descobri que não era para que gatos não saíssem, mas sim para que não entrassem para sujar seus quintais, e contaram que há anos denunciavam a tal velhinha por maus tratos, e que meses antes o CCZ/SP havia ido lá finalmente e que tinham capturado alguns gatos. Contaram também que outras protetoras já haviam se oferecido para ajudar com castrações mas ela nunca aceitou. E o mais incrível é que ela trabalhava para um médico como enfermeira, do que se conclui que não era uma ignorante. Mas como todo colecionador o perfil dela era aquele já bem manjado....bem articulada e dissimulada.
Os gatos dela eram ferais (bravos), viviam em um matagal que havia no fundos da casa, um quintal enorme que não dava para ver o chão, e nem que haviam animais ali dentro de tão fechada que era a mata.
Ou seja: como tantos colecionadores ela não sociabilizava com os animais, apenas os acumulava.
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Matagal onde viviam os gatos da colecionadora. |
Eis que um dia passando por lá percebo que estavam colocando tapumes nas casas inclusive a da tal colecionadora. Começamos a investigar e ela já havia se mudado de lá deixando os gatos segundo os vigias que a construtora tinha colocado nas casas que iriam ser demolidas. Acabamos conhecendo uns rapazes que moravam na mesma rua e que gostavam muito de animais e que queriam tirar os gatos de lá antes dos tratores entrarem e por tudo abaixo.
Quando entramos na casa o que vimos era aterrorizante. Pilhas de lixo entulhando todos os comodos, ratos, baratas, imundície de anos acumuladas lá dentro, não havia nem mesmo água nas torneiras.
Com a ajuda financeira dos rapazes pagamos para os vigias para que nos ajudassem a capturar os gatos com as armadilhas, organizamos a logistíca para que eles fossem levados para uma clinica e enquanto não tiravamos todos de lá, iamos fornecendo ração e água para que não morresem de fome.
Essa operação levou quase um mes e os animais iam sendo hospedados em uma clinica para serem tratados, vacinados e castrados. Conseguimos um gatil para aonde foram levados, mas jamais amansaram, eram bravos a ponto de atacar quando encurralados, e infelizmente quando imaginávamos que tinhamos tirado todos, um deles, talvez um dos mais ariscos foi encontrado muito ferido e morreu antes que desse para fazer algo.
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A DEMOLIÇÃO |
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A casa já demolida, restando apenas a mata onde viviam os gatos. |
Tempos depois encontrei um dos vigias que nos ajudou com as capturas e ele me disse que a tal senhorinha havia passado por lá e lhe contou que ela estava muito deprimida, pois não conseguia viver sem os gatos e que estava procurando uma casa na região para comprar e poder te-los novamente.
Tive um ataque de fúria e disse que se ela começasse a coleção novamente ia denunciá-la até ao FBI.
E eis que alguns dias depois ele soube por uma conhecida da tal velhinha que ela havia infartado e morrido. Me desculpem mas eu comemorei muito essa notícia!!!
A herança que ela deixou? um monte de gatos bravos e indoáveis.
Moral da história: um colecionador de animais só pára de torturá-los quando morre!!!
Não existe nenhum amor, nenhum respeito, nenhum sentimento de compaixão, nada que um colecionador sinta por estes animais, apenas o egoismo sádico em mante-los em condições precárias, sobre seu poder de vida e de morte e que faz com que muitas vezes eles vivam em tal estado de penúria que chegam a cometer canibalismo, ou seja matam os mais fracos para devorá-los tamanha a fome.
Quem apoia, acoberta ou finge que não sabe o que acontece com certeza é conivente com os maus tratos e as crueldades perpetuadas por estes seres do mal que usam os animais como muleta para suas neuroses e carencias.
excelente posicionamento em relação a colecionadores, que podem ser de lixos, roupas, tranqueiras e o mais grave, animais, problema sério que presenciamos em nosso país e em outros que com estrutura conseguem soluções e tratamentos para essas pessoas debilitadas, esperamos ajuda aqui tambem!!os animais agradecem.
ResponderExcluirIzo, parabéns pela matéria. Texto coerente, elucidativo e bem escrito,
ResponderExcluirabraços, Juana Braga
Concordo com tudo o que voce disse. Colecionar animais é uma compulsão patológica, a cura é demorada e necessita de ajuda, a pessoa sozinha não reverte a situação. As vítimas morrem sob a tortura da fome, sede, doenças, ferimentos, temperaturas extremas, etc, e para o/a colecionador/a os inocentes estão melhor ali presos do que nas ruas.
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