quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A herança da colecionadora de animais - Parte 1




 Há algum tempo estava ensaiando para escrever esse texto, ou como dizem no interior "contar esse causo". E eis que há duas semanas quando me ligaram em um domingo ensolarado em pleno café da manhã, para me contar que uma colecionadora de animais continua a submeter suas vitímas a fome, dor, crueldade e loucura e que pseudos "protetores" não param de pedir a ela que pegue mais bichos, mesmo já tendo sido denunciada às autoridades da cidade e estando proibida de pegar sequer uma pulga, eu resolvi que tinha chegado a hora. 

Para quem ainda não conhece o tema sugiro uma olhada nesse material da ArcaBrasil:
http://www.arcabrasil.org.br/noticias/1101_hoarders.html


Durante dois anos morei em Pinheiros  um bairro badalado e bem conhecido de SP. Logo que me mudei para lá descobri que na mesma quadra em que morávamos havia uma senhorinha, de voz mansa, olhinhos azuis e cabelos brancos que possuía muitos gatos. 
Ao passarmos pela frente da casa dela em dias de sol viam-se muitos bichanos espalhados aproveitando o calor gostoso deitados com aquele jeito que só os gatos sabem fazer, e que nos causa uma invejinha boa no fundo da alma.
Mas o que nos chamou mesmo a atenção foi o fato da casa exalar um odor muito forte de urina de gatos.
Eis que um dia passando vi vários filhotinhos na janela e aproveitando que ela estava na frente da casa puxei conversa e fui logo dizendo que era apaixonada por gatos e já fui fazendo a pergunta básica:
e esses filhotes a senhora vai doar? e aí veio a resposta que confirmou minhas suspeitas:: nem sei de onde vieram, de repente apareceram na minha sala. 
Outra pergunta: mas seus gatos não são castrados? a resposta: são muitos e eu não consigo me lembrar quais são castrados.
Aí eu falei que se ela conseguisse se lembrar, que tinhamos várias amigas gateiras lá no bairro e que nos dispunhamos a castrar os que faltavam e até a doar os filhotes se ela quisesse. 




Como eu suspeitava que iria acontecer ela nunca me respondeu, e quando me via fugia rapidão.....imagino quantos filhotes ela não desovou pelas praças, jardins e cemitérios daquele bairro, porque os que eu havia visto sumiram de repente. E quantos destes filhotes não acabaram sendo mortos por maldade, fome ou mesmo atropelamentos?
Depois conversando com vizinhos pude observar os portões e muros das casas telados e descobri que não era para que gatos não saíssem, mas sim para que não entrassem para sujar seus quintais, e contaram que há anos denunciavam a tal velhinha por maus tratos, e que meses antes o CCZ/SP havia ido lá finalmente e que tinham capturado alguns gatos. Contaram também que outras protetoras já haviam se oferecido para ajudar com castrações mas ela nunca aceitou.  E o mais incrível é que ela trabalhava para um médico como enfermeira, do que se conclui que não era uma ignorante. Mas como todo colecionador o perfil dela era aquele já bem manjado....bem articulada e dissimulada.
Os gatos dela eram ferais (bravos), viviam em um matagal que havia no fundos da casa, um quintal enorme que não dava para ver o chão, e nem que haviam animais ali dentro de tão fechada que era a mata.
Ou seja: como tantos colecionadores ela não sociabilizava com os animais, apenas os acumulava.


Matagal onde viviam os gatos da colecionadora.

Eis que um dia passando por lá percebo que estavam colocando tapumes nas casas inclusive a da tal colecionadora. Começamos a investigar e ela já havia se mudado de lá deixando os gatos segundo os vigias que a construtora tinha colocado nas casas que iriam ser demolidas. Acabamos conhecendo uns rapazes que moravam na mesma rua e que gostavam muito de animais e que queriam tirar os gatos de lá antes dos tratores entrarem  e por tudo abaixo.
Quando entramos na casa  o que vimos era aterrorizante. Pilhas de lixo entulhando todos os comodos, ratos, baratas, imundície de anos acumuladas lá dentro, não havia nem mesmo água nas torneiras.
Com a ajuda financeira dos rapazes pagamos para os vigias para que nos ajudassem a capturar os gatos com as armadilhas, organizamos a logistíca para que eles fossem levados para uma clinica e enquanto não tiravamos todos de lá, iamos fornecendo ração e água para que não morresem de fome.
Essa operação  levou quase um mes e os animais iam sendo hospedados em uma clinica para serem tratados, vacinados e castrados. Conseguimos um gatil para aonde foram levados, mas jamais amansaram, eram bravos a ponto de atacar quando encurralados, e infelizmente quando imaginávamos que tinhamos tirado todos, um deles, talvez um dos mais ariscos foi encontrado muito ferido e morreu antes que desse para fazer algo.


A DEMOLIÇÃO

A casa já demolida, restando apenas a mata onde viviam os gatos.

Tempos depois encontrei um dos vigias que nos ajudou com as capturas e ele me disse que a tal senhorinha havia passado por lá e lhe contou  que ela estava muito deprimida, pois não conseguia viver sem os gatos e que estava procurando uma casa na região para comprar e poder te-los novamente.
Tive um ataque de fúria e disse que se ela começasse a coleção novamente ia denunciá-la até ao FBI.
E eis que alguns dias depois ele soube por uma conhecida da tal velhinha que ela havia infartado e morrido. Me desculpem mas eu comemorei muito essa notícia!!!
A herança que ela deixou?  um monte de gatos bravos e indoáveis. 
Moral da história: um colecionador de animais só pára de torturá-los quando morre!!!





Não existe nenhum amor, nenhum respeito, nenhum sentimento de compaixão, nada que um colecionador sinta por estes animais, apenas o egoismo sádico em mante-los em condições precárias, sobre seu poder de vida e de morte e que faz com que muitas vezes eles vivam  em tal estado de penúria que chegam a cometer  canibalismo, ou seja matam os mais fracos para devorá-los tamanha a fome. 

Quem apoia, acoberta ou finge que não sabe o que acontece com certeza é conivente com os maus tratos e as crueldades perpetuadas por estes seres do mal que usam os animais como muleta para suas neuroses e carencias. 




3 comentários:

  1. excelente posicionamento em relação a colecionadores, que podem ser de lixos, roupas, tranqueiras e o mais grave, animais, problema sério que presenciamos em nosso país e em outros que com estrutura conseguem soluções e tratamentos para essas pessoas debilitadas, esperamos ajuda aqui tambem!!os animais agradecem.

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  2. Izo, parabéns pela matéria. Texto coerente, elucidativo e bem escrito,
    abraços, Juana Braga

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  3. Concordo com tudo o que voce disse. Colecionar animais é uma compulsão patológica, a cura é demorada e necessita de ajuda, a pessoa sozinha não reverte a situação. As vítimas morrem sob a tortura da fome, sede, doenças, ferimentos, temperaturas extremas, etc, e para o/a colecionador/a os inocentes estão melhor ali presos do que nas ruas.

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