sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Polemica - Debate sobre atendimento a animais carentes tem que passar longe do oportunismo.


Foto - Helvio Romero
Nesta semana em que até mesmo a grande mídia se dedicou a fazer publicações sobre um vídeo que circulou onde um veterinário afirma que o CRMV/SP o está proibindo de praticar o bem, muitas questões vieram a tona e é inevitável não falarmos sobre isto aqui no nosso blog.
Não vamos citar o nome deste veterinário porque em nossa opinião tem caroço neste angu, e analisando todo o histórico dele, chegamos a conclusão que há algo mais por trás disso tudo, seja a necessidade de se projetar ou de conseguir alguma outra vantagem, ou a busca por notoriedade em vista das próximas eleições...vai saber!!!
Porém queremos deixar claro que discordamos da postura dele e também de quem inocentemente o está defendendo.
Querer obrigar profissionais de toda uma classe a trabalhar gratuitamente é tiro do pé e isso está rendendo muita antipatia para a proteção animal isso sim!!!
Portanto vamos aguardar enquanto ele surfa no sucesso e vai conseguindo  aplausos, curtidas, apoio de políticos que também curtem um bom marketing, ajuda para fundar uma Ong etc...para colocar alguns grilinhos na cabeça de quem se dispuser a ler essa matéria.

Conhecendo muito bem  a forma como é fácil apertar os botões certos e manipular como bem quiser a proteção animal, e mesmo os cidadãos deste país continental, acabamos sendo sempre uma voz dissonante que ainda insiste em tentar alertar aqueles que por ventura queiram ficar espertos com as "pegadinhas dos malandros".
Quem não conhece os meandros da proteção animal talvez fique realmente comovido com tanto desprendimento deste veterinário, porém é importante que se esclareça que existem centenas talvez milhares de veterinários em nosso país que fazem ações solidárias tanto em suas clínicas com em abrigos ou casa de protetores. Profissionais do bem que fazem campanhas de castração e vacinação com valores sociais, atendem animais resgatados dando desconto em consultas e procedimentos, abrem seus estabelecimentos para eventos de doação ou doam parte de seu tempo para algum trabalho em alguma entidade menos favorecida.
Sem esquecermos de citar aqueles que atuam em desastres ambientais como os que ocorreram na região serrana do Rio de Janeiro e do qual participamos também ou da tragédia de Mariana.
Isso não os desqualifica como profissionais e também não os deixa mais pobres, muito pelo contrário, sabemos de veterinários solidários que durante anos vem trabalhando dessa forma e estão muito bem financeiramente.

Quanto aos conselhos da classe veterinária com certeza sempre esperamos por parte deles uma maior aproximação da questão do animal carente para ajudar a pressionar os órgãos públicos para que ampliem os serviços voltados para a população menos favorecida, que ajudem a elaborar projetos de hospitais públicos em seus estados, que obriguem as faculdades a melhorar o nível de seu ensino já que andam formando veterinários que nem aplicar uma injeção sabem, que nos ajude a elaborar um mega projeto de controle populacional e identificação dos cães e gatos deste país imenso e que parem de perturbar os profissionais que atuam de forma solidária e que estejam de acordo com as normas estabelecidas pelas entidades.
O que também não podemos aceitar calados é ver alguém que fatura milhares de reais mensalmente na causa vendendo produtos ou conseguindo doação para suas ações e que chega ao ponto de ter equipe contratada para fazer o trabalho pesado, e tem milhares de seguidores leigos e mesmo ignorantes do que é a verdadeira causa, usando determinados episódios para causar ainda mais polêmica e exigir dos profissionais de veterinária atendimento gratuito como já publicamos aqui no blog.
Infelizmente colocar a classe veterinária contra os protetores é no mínimo uma irresponsabilidade e parece que não pesa nem um pouco na consciência dessa figura pública.

Então resumindo: Tudo o que não precisamos é de protetores ou profissionais oportunistas manipulando a opinião pública para alcançar seus objetivos que passam muito longe da preocupação com os animais carentes e aqueles que os defendem!!!
Não deixem de ler o excelente texto da dra. Rosangela R. Gebara logo abaixo.

Código de ética do profissional veterinário:
http://pt.calameo.com/read/00191317105dde2926be1

A carta do CRMV/SP enviada ao veterinário polêmico:




Um texto feito por uma veterinária para reflexão e avaliação de nossos leitores:

Atendimentos de animais carentes !

Após muitas discussões sobre este tema durante esta semana, resolvi escrever sobre esta questão e gostaria muito de saber a opinião de meus colegas veterinários.
No mundo ideal somente pessoas com condições físicas, psicológicas e sócio econômicas teriam animais, no mundo ideal não existiriam animais abandonados, não existiriam maus tratos, todos estariam castrados e não existiria este comércio cruel e indiscriminados de cães e gatos.
Mas este mundo ideal infelizmente ainda não existe e aí o que acontece diariamente são animais abandonados e doentes necessitando de cuidados veterinários. A grande maioria destes animais acabam em clinicas veterinárias e hospitais. Centenas de veterinários todos os dias ajudam de alguma forma animais abandonados, animais de tutores carentes ou de protetores independentes, muitos acabam fazendo descontos em consultas, procedimentos e cirurgias. Ajudam a encontrar tutores responsáveis, aconselham e se doam pela causa.
O importante é ter em mente que não existe recursos infinitos. A regra numero 1 de uma ONG ou de um protetor independente é determinar um limite, senão podem virar acumuladores (hoarders) e prejudicar a vida dos animais e sua própria vida, fazendo com que a capacidade de ajuda à longo prazo desapareça.
A regra numero 1 de um veterinário solidário deveria ser a mesma, senão sua clinica vai à falência e sua capacidade de ajuda e compaixão se esvaece numa síndrome chamada burnout ou fadiga da compaixão.
Qual seria a saída, de quem é a culpa, de quem é a responsabilidade?
A responsabilidade é de todos nós, cidadãos, governo, profissionais ....como cidadãos devemos pensar muito antes de adquirir um animal , devemos priorizar sempre a adoção, devemos esterilizar nossos cães e gatos, devemos cuidar destes seres vulneráveis garantindo seu bem estar físico e psicológico; os governos devem estabelecer políticas publicas de manejo humanitário de populações, devem promover em escolas a educação em guarda responsável, devem identificar cães e gatos, fiscalizar e punir o abandono e os maus tratos; como profissionais devemos educar nossos clientes em guarda responsável, devemos não estimular a compra ou adoção por impulso, devemos aconselhar quanto ao controle reprodutivo, etc.
Veterinários podem e devem ajudar neste processo à curto, médio e longo prazo, pois são agentes importantes de conscientização e sempre que puderem podem ajudar animais de pessoas carentes, sempre respeitando a ética profissional e sua capacidade de ajuda. Ninguém é obrigado a fazer caridade, mas todos temos uma responsabilidade indireta pelos animais, assim como temos pela situação social da nossa comunidade, do nosso pais.
Não existe receita, mas desejamos que os veterinários e protetores que se doam e fazem muito pelos animais carentes todos os dias, que estabeleçam seus próprios limites físicos e econômicos, que tentem maximizar suas ações tornando-se agentes educadores, que tentem formar correntes do bem, dividindo o peso de suas ações filantrópicas, que ajudem a influenciar governos, que empoderem outras pessoas e profissionais ...
Todos podem fazer pelos animais mais vulneráveis e não podemos esperar o mundo ideal de mãos cruzadas, mas não devemos nunca ferir a ética e os limites pessoais. Senão a possiblidade de ajuda acaba, a profissão acaba e resultado será negativo para pessoas e ANIMAIS.

Dra Rosangela Ribeiro Gebara
Gerente de Programas Veterinarios na empresa World Animal Protection

Leitura sugerida pela dra Rosangela:  Para quem quer se aprofundar nestas questões éticas dentro da medicina veterinária aconselho lerem este livro do filósofo americano Bernard Rollin - VETERINARY MEDICAL ETHICS. Ele fala sobre a responsabilidade social do veterinário e explica de que maneira um veterinário que dedica 10% do seu tempo para uma ação de controle populacional ou medicina preventiva esta ajudando o entorno de sua comunidade e de sua clinica. 
 

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