quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Matéria sobre a dificuldade de se lidar com os "acumuladores de vidas".


Jessica Rubler

A linha tênue entre proteger e acumular 

Pesquisa da PUCRS identificou 64 possíveis acumuladores de animais em Porto Alegre 

Seu Arnaldo (nome fictício) veio de Jaguarão para Porto Alegre aos cinco anos e nunca esqueceu daquela viagem. Não havia ônibus, ele e a família vieram para a Capital do Rio Grande do Sul de trem. Eles estavam no último vagão e, até hoje, com 84 anos, Arnaldo lembra muito bem daquela cena - e se emociona ao falar sobre o assunto. Ele tinha um cachorro chamado Pinduca, que não pôde viajar com eles no trem e teve que ficar em Jaguarão, sua cidade natal. Quando o trem partiu, o pequeno Arnaldo se pendurou no parapeito e ficou observando seu cãozinho, que corria para tentar alcançar o trem que deslizava apressado pelos trilhos. É com lágrimas nos olhos que seu Arnaldo conta a história.

Essa situação traumática, da qual nunca mais se esqueceu, foi uma demonstração do seu primeiro grande amor pelos animais. Depois disso, Arnaldo seguiu a vida na cidade grande, foi professor de dança e de espanhol em Porto Alegre por muitos anos e, há 35 anos, abandonou a profissão para se dedicar integralmente aos animais. A forte ligação com a causa iniciou-se quando trabalhou na Fundação Estadual de Proteção Ambiental do RS (Fepa-RS) por um mês. Saiu de lá por uma injustiça: queriam sacrificar três cães e ele, revoltado, não permitiu e abrigou os bichinhos em sua casa. A partir deste momento, Arnaldo começou a cuidar de animais, cada vez mais animais.

Sempre muito ativo e com muitos animais, Arnaldo cuidava do pátio, limpava toda a área, alimentava os cães e colocava água para eles, mas, com o passar do tempo, a situação foi ficando fora de controle. Na região onde vive, toda a comunidade conhece Arnaldo e sabe que ele sempre abriga novos cães. Assim começou a se verificar um problema. A vizinhança – e até pessoas que não eram do bairro – abandonavam cães em frente à sua casa. Ele passou a abrigar cada vez mais animais.

Mesmo sem ter condições de alimentá-los (e muitas vezes sem condições de alimentar a ele próprio), ele não sabia dizer não. Em setembro de 2015, seu Arnaldo estava com 150 cães em seu pátio – quando passou a ser considerado um acumulador de animais. O grupo de pesquisa Avaliação, Reabilitação e Interação Humano-Animal da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) mapeou os acumuladores de animais em Porto Alegre. Mas, afinal de contas, o que é um acumulador de animais? Esse transtorno passou a ter uma categoria própria em 2013, na última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), divulgado pela Associação Americana de Psiquiatria. Antes, o acúmulo de animais era apenas um sintoma do Transtorno Obssessivo-Compulsivo (Toc). Poucas publicações sobre o tema dificultam uma compreensão mais aprofundada do quadro e, também, faz com que a população não tenha conhecimento sobre a situação. Em Porto Alegre o grupo verificou 64 residências de possíveis acumuladores, mas apenas 48 pessoas receberam a visita da equipe e somente 38 aceitaram participar da coleta de dados – o que tornaria possível fazer um levantamento mais objetivo sobre a questão. Seu Arnaldo foi um dos acumuladores visitados.

A iniciativa do estudo surgiu através de um pedido da promotoria do meio ambiente do Ministério Público (MP) em dezembro de 2014, que estava buscando universidades que tivessem linhas de pesquisa que trabalhassem com acumuladores de animais. A professora Tatiana Quarti Irigaray, do curso de psicologia da PUCRS, já tinha uma pesquisa na área da psicologia em parceria com o curso de veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e decidiu dar início à pesquisa. “Os promotores de justiça notavam que as pessoas que acumulavam animais deveriam ter algum tipo de transtorno mental, então eles chegaram na universidade com um pedido para tentar entender o que acontecia com essas pessoas”, disse Tatiana.

O resultado impressiona. Há uma média de 36 animais por casa, em um total de 1.379 animais entre cães, gatos, patos e pombos. “Esse número é auto relatado pelos participantes. Nas coletas, verifica-se que o número de animais era maior do que o relato. Provavelmente existam mais de 1.500 animais nessa pequena amostra, vivendo em situações precárias”, explica Tatiana, que coordena o grupo de estudos. Ainda de acordo com Tatiana, essa é justamente a característica de maior destaque dos acumuladores. “Não é o número de animais que define o transtorno e sim as condições reais do ambiente e dos animais. Eles não têm o mínimo de alimentação, cuidados, higiene e espaço. O acumulador não consegue perceber nem admitir que os animais estão em péssimas condições”, definiu Tatiana. Ainda de acordo com ela, faz parte do transtorno essa falta de capacidade de perceber a realidade dos bichinhos. Para a pesquisadora é necessário intervir no transtorno de acumulação de animais, pois é considerado um problema de saúde pública.


Acúmulo x Proteção 

O acumulador, de modo geral, não consegue se desfazer dos animais através de uma doação, por exemplo. Essa é a diferença essencial entre um indivíduo que acumula animais e aquele que recolhe, protege e consegue encaminhá-lo para adoção, que é considerado “protetor”. “Muitos acumuladores não deixam os animais saírem da residência para serem castrados, por exemplo, porque eles acham que não vão ser devolvidos”, relatou Tatiana. A única forma de ter acesso aos animais sem a permissão do dono é através de ação judicial. Para não interferir diretamente na vontade do dono, o grupo de pesquisa, em parceria com a Secretaria Especial dos Animais (Seda) de Porto Alegre, está tentando aos poucos evoluir no tratamento dessas pessoas, com foco na saúde dos animais. “Já conseguimos entrar em quase 40 casas e hoje a gente já tem uma discussão com a atenção primária da saúde dos animais. Estamos sempre desenvolvendo estratégias para que exista um acompanhamento de pessoas da área da saúde mental e da proteção dos animais, para que estes acumuladores sejam atendidos com acompanhamento psicológico”, disse Tatiana. Seu Arnaldo, que possuía 150 cães quando foi visitado pelo grupo pela primeira vez, em setembro de 2015, um ano depois, está com 70 cães. “Todos são castrados, vacinados e chipados pela Seda”, explica ele. Esta mudança ocorreu em maio deste ano, quando Arnaldo foi mordido por um dos cães – que já foi recolhido pela Seda. Ele foi separar uma briga entre dois cães e, no meio da confusão, acabou levando uma mordida na mão.

Após o acidente, ele ficou internado dois meses no Hospital Independência e, por conta disso, diversas Organizações Não Governamentais realizaram campanhas para que os cachorros fossem adotados. Isso resultou numa redução de 80 cães, o que é positivo. Seu Arnaldo explica que, geralmente, acaba não encaminhando os cães para adoção porque já tentou fazer isso e as pessoas, pelo menos da sua região, acabavam abandonando os cães novamente. E isso o deixava muito chateado.

Como Tatiana já explicou, o simples fato de possuir muitos animais não qualifica o indivíduo como um acumulador. Se o grande número de animais não prejudica a vida da pessoa, ela não é considerada uma acumuladora. “O acumulador não consegue doar seus animais e não dá atenção necessária à saúde e bem-estar deles”, diz Tatiana, ressaltando que essa é a diferença entre um acumulador e um protetor. Em relação ao tratamento de um acumulador, Tatiana explica que ainda não há estudos que documentam um tipo de intervenção que poderia ser capaz de tratar este transtorno. “Provavelmente a melhoria envolve um tratamento psiquiátrico, com uso de medicação”, detalha. O grupo de pesquisa e a Seda ainda estão analisando quais são as melhores estratégias para atingir uma possível “cura” para isto. Neste primeiro momento, a equipe está pensando em atender as pessoas em suas residências, sempre alertando para a importância de cuidar e tratar os animais, e também trabalhando na questão do desapego e na melhoria da qualidade de vida (tanto dos animais quanto das pessoas que os acumulam).


 “Muitos animais que pertencem aos acumuladores estão desnutridos, o que acaba gerando um grande risco de canibalismo entre eles – pois não são alimentados de maneira adequada”, explicou Tatiana. Ainda conforme a pesquisadora, os animais não vivem em um ambiente agradável e que favoreça seu bem-estar. Geralmente são encontrados confinados, em gaiolas de passarinhos, o que favorece a disseminação de doenças como dermatites e outras. “Já encontramos animais dentro de gavetas, é uma situação bem complicada”, relatou Tatiana. A condição dos animais é muito ruim, mas a condição de vida do acumulador também é péssima. “Eles começam a recolher os animais da rua, num primeiro momento, por amor. Mas é um transtorno mental, a pessoa perde a noção”, destacou Tatiana. O grupo de estudos está realizando muitas pesquisas para chegar a uma solução ideal para este problema.

 De acordo com a veterinária da Seda, Kátia Gueiral, normalmente os acumuladores são denunciados por vizinhos e/ou familiares pelo forte cheiro na residência, por maus-tratos ou por poluição sonora, pois não conseguem controlar os animais. Chegando aos locais identificados como residências de acumuladores, a Seda e a equipe do grupo de pesquisa da Pucrs entram em contato com essas pessoas para tentar auxiliar no que for possível. “Os acumuladores têm dificuldade para enxergar que estão causando problemas para a vida dos animais e para suas próprias vidas”, destacou Kátia. Segundo a veterinária, os acumuladores e seus animais vivem em situações totalmente insalubres e não admitem isto. Eles estão sempre adotando mais animais. Mesmo que os animais estejam saudáveis, eles acabam adotando animais com algum tipo de enfermidade, o que coloca a vida dos outros cãezinhos em risco. “É um transtorno muito complicado, as pessoas simplesmente perdem a noção e chegam a um nível de descontrole total”, explicou Kátia.

Seu Arnaldo não consegue admitir que é um acumulador, inclusive fica incomodado com essa denominação. “Acho que eu deveria ser considerado um protetor”, destaca. Ao mesmo tempo em que o acumulador é muito diferente do protetor, Kátia diz que é uma situação “muito distante, mas também muito próxima”, porque o protetor também acaba tendo dificuldades para cuidar dos animais, visto que é muito custoso tratar todos, alimentar todos e cuidar de toda a higiene. De qualquer forma, o protetor ainda consegue ter o bom senso de doar os animais para quem demonstra interesse, enquanto o número de animais do acumulador tende a crescer sempre. A Seda está atuando na recuperação dos acumuladores. “Esterelizamos os animais e chipamos todos eles, numa tentativa de controlar quem entra e quem sai”, informou Kátia. A equipe da Seda faz uma força-tarefa com clínicos-veterinários para garantir vacinação, vermífugo e até castração para os animais dos acumuladores. Na casa do seu Arnaldo, por exemplo, foi feita uma superlimpeza com o auxílio de voluntários para que fosse possível garantir um ambiente mais agradável tanto para ele quanto para os animais.

Seu Arnaldo explica que a Seda dá um apoio muito grande para ele e para os animais há mais de dois anos. E também já recebeu doações do Canadá e da Alemanha, em uma conta que administra para receber ajuda de quem estiver disposto a colaborar com sua situação. Por sorte, ele conta com a ajuda de Guilherme (nome fictício), de 48 anos, que o auxilia desde os 15 anos nos cuidados com os animais. “A maioria dos animais que ele acolheu foi largada aqui na frente”, destacou Guilherme. “Ele é meu filho adotivo”, brinca Arnaldo. Guilherme contou que no início do mês chegou um rapaz com dez filhotes em uma caixa de papelão, e ele indicou que o rapaz buscasse a Seda, pois eles não estão mais abrigando animais. “As pessoas se acostumaram com a situação e estão sempre querendo deixar os animais aqui na frente”, desabafou Guilherme.


Acompanhamento

As equipes da Seda e do grupo de pesquisa fazem visitas semanais às residências dos acumuladores para tentar fazer um acompanhamento bem próximo. Infelizmente, a Seda não tem condições de abrigar todos os animais, pois a Unidade de Medicina Veterinária, localizada na Lomba do Pinheiro, já está com lotação máxima. “E nem adiantaria recolher os animais, pois, quando viramos as costas, a pessoa já está pegando outros”, destacou Kátia. Para ela, a solução não é retirar os animais das residências destes acumuladores. “Tem que insistir em um trabalho educacional. Tentamos motivar os donos mostrando que vai ser melhor para o animal se ele for adotado por outra pessoa. Também contamos com a ajuda de alguns protetores para convencer os acumuladores de que, se a vida for um pouco mais organizada, vai ser melhor para eles”, disse Kátia.

Apesar de todo o trabalho das equipes, é importante que a comunidade também se conscientize sobre este quadro preocupante. Segundo a pesquisadora Tatiana, os vizinhos já sabem que os acumuladores não conseguem deixar um bichinho na rua e acabam abandonando animais em frente às residências deles. Assim, eles realmente nunca vão parar de acumular mais e mais animais. “Eu não junto mais os animais e até peço que as pessoas se conscientizem e não tragam mais animais aqui”, explica Arnaldo.

Uma ONG, que seu Arnaldo não soube informar o nome, está auxiliando bastante na melhoria do ambiente para os animais. Eles ajudaram na destruição parcial de uma casa que estava abandonada no terreno e, nas próximas semanas, devem começar a construir um canil com boa estrutura para abrigar os 70 animais. Por enquanto, o local possui seis canis improvisados, onde os animais estão separados por idade e temperamento. Dos 70 cachorros que vivem com Arnaldo, seis são seus “preferidos”, que ficam soltos no pátio e, segundo Guilherme, não vão para o canil de jeito nenhum. “Ele é apegado a estes animais”, destacou. Mesmo não sendo o local ideal para os cães, seu Arnaldo e Guilherme garantem que fazem o melhor que podem. “Eu estou sempre limpando, alimentando e colocando água para os animais”, explicou Guilherme.

O papel da comunidade Muitos bichos acabam morrendo porque não são cuidados da maneira mais adequada. A comunidade reclama do cheiro forte e da poluição sonora, mas acaba colaborando negativamente para que o acumulador continue adquirindo mais e mais animais. É preciso que haja uma conscientização coletiva. O acumulador precisa fazer sua parte, a comunidade precisa fazer sua parte e todos devem lembrar que, em uma situação como essa, todos saem perdendo. A pessoa que tem este transtorno não consegue se dar conta de que, quanto mais animais, mais a sua vida será prejudicada (e também a vida de cada um dos bichinhos que é acolhido em um ambiente que não é o mais adequado).

 Para Tatiana, é importante que as pessoas que conhecem algum acumulador – mesmo que não tenha o diagnóstico atestando que esta pessoa realmente possui o transtorno – entrem em contato com as autoridades para que seja possível reverter este quadro. Ainda de acordo com ela, em Porto Alegre, a Secretaria Municipal da Saúde está dando todo apoio necessário para esse tipo de situação. Seu Arnaldo não se considera um acumulador de cães, mas, de acordo com a psicóloga Tatiana, ninguém se considera acumulador e nem gosta de ser chamado como um, mas é o nome técnico da psicologia. “Essa falha na percepção é justamente um dos sintomas do transtorno”, destacou a docente. Eles acham que estão fazendo o melhor que podem, justamente o que Guilherme relatou. Mesmo depois de sua internação, seu Arnaldo acabou recolhendo mais animais. “A comunidade enxerga a casa dele como um ponto de descarte dos animais”, relatou. Lembra da história de seu Arnaldo quando deixou Jaguarão e veio para Porto Alegre? Aquela situação traumática de perda? Então, segundo Tatiana, a maioria dos acumuladores com os quais o grupo de pesquisa entrou em contato passou por situação semelhante. “Pode estar ligada ao transtorno com certeza”, afirmou a psicóloga. De qualquer forma, Tatiana reafirma que, apesar de a psiquiatria considerar o acúmulo de animais somente como mais um tipo de acúmulo, são coisas totalmente diferentes. “Nesse caso, o acumulador não junta lixo nem roupa, junta vidas.”


Os animais 

De acordo com a veterinária Bianca Zago, da petshop e clínica veterinária Ponto do Cão, “a maioria dos animais que vivem com acumuladores sobrevivem em condições de saúde deplorável. Os acumuladores têm uma visão distorcida da realidade e enxergam como se estivessem ajudando ou salvando os animais quando os recolhem da rua, mas estão simplesmente prendendo um animal em sua residência, que continua a passar fome e sede e continua exposto à doenças e ao clima tal como estaria se ainda vivesse na rua”, explicou Bianca. Segundo ela, apesar de os acumuladores acharem que estão cuidando dos bichos, eles não estão sendo tratados da maneira que deveriam. Tanto em relação aos cães quanto ao acúmulo de gatos, o maior risco vem do grande número de indivíduos confinados em um mesmo ambiente. Isso traz problemas à saúde dos animais de diversas maneiras, mas principalmente por aumentar a ocorrência de doenças infectocontagiosas, principalmente em uma grande população que convive junta. Quando se adiciona a isso um ambiente sujo e contaminado e a falta de alimentação adequada (tanto em quantidade como em qualidade), como se vê nos casos de acumuladores, isso se torna um real problema de saúde pública.Bianca diz que a responsabilidade de cuidar é muito subestimada hoje. “Cuidar e prezar pelo bem-estar de um animalzinho é muito mais que retirá-lo da rua e fornecer comida e água. No momento em que o animal entrou em sua casa, você se torna responsável não só por sua alimentação, mas também por seu bem-estar, sua qualidade de vida e sua felicidade”, explica. Ela também fala sobre adoção responsável e destaca que a pessoa que pretende adotar um animal deve ter em mente que também fazem parte do seu bem-estar dar amor, carinho, levar o animal para passear, levá-lo ao veterinário periodicamente e vaciná-lo. “E isso requer muito comprometimento, tempo e dinheiro por parte do tutor”, relata a médica.

Para realizar o acolhimento adequadamente, Bianca diz que é necessário possuir uma rede de apoio grande, como é possível observar nos casos de organizações que prestam esse serviço. “A maioria das ONGs faz parcerias com clínicas e veterinários, bem como com uma rede de voluntários que auxiliam no cuidado com os animais e realizam a limpeza dos ambientes em que ficam instalados os animais, mantendo assim a integridade dos locais onde os cães (ou gatos ou outros animais) são acolhidos.”

Quando questionada sobre o que é melhor para o animal, permanecer na rua ou ser acolhido por um acumulador, Bianca diz que é uma situação complicada. Por um lado, temos um animal vivendo na rua, exposto a frio, calor e vento, à mercê de perigos como trânsito, outros animais e pessoas que possam lhe fazer mal, mas, mesmo com as dificuldades, Bianca considera que os animais conseguem dar um jeito para sobreviver nas ruas. Se o animal é recolhido por um acumulador, estaria com abrigo e comida (por piores que esses sejam), mas confinado em um ambiente com tantos outros, aumentando o risco de adoecer e, no caso de que isso aconteça, sem o menor suporte para sua saúde. “Posso dizer que é o sonho de quase todo médico veterinário clínico de pequenos animais viver em uma cidade onde todo animal tenha uma família que o alimente, cuide bem dele e o ame. Porém, a meu ver, no momento em que o animal está confinado em um ambiente que não apresenta condições sanitárias para que ele se alimente e tenha um mínimo de qualidade de vida e bem-estar, está errado que permitam que ele permaneça nesse local e situação”, informou Bianca.

 A maioria dos animais que pertencem a acumuladores, pelo menos na amostra verificada no pátio de seu Arnaldo, é de cães adultos ou idosos que, dificilmente, seriam adotados por alguma família. Nas feiras de adoções e campanhas de organizações de proteção aos animais, os filhotes são muito mais procurados. Logo, o acumulador esbarra em um desafio: como doar animais se não há ninguém interessado? De acordo com Bianca, é importante trabalhar em dois pontos. “É extremamente necessário realizar a castração de animais vindos da rua, para que não perpetuem o problema de hiperpopulação animal na rua, em ONGs ou dentro de casas de protetores ou acumuladores”, destacou. Depois, a veterinária acredita que as chances de adoção serão maiores se houver algum tipo de campanha ou divulgação desse tipo de possibilidade. “No meu dia a dia, vejo cada vez mais animais ganharem um novo lar por meio de campanhas de adoção nas mídias sociais. Esse recurso permite que a informação chegue muito mais longe que, digamos, uma feira de adoção em um bairro.” Para ela, é importante conscientizar de que “adotar é tudo de bom” e incentivar cada vez mais pessoas a buscarem este meio para terem seus bichinhos, em vez de comprá-los.

Fonte

2 comentários:

  1. Excelente matéria. Texto muito bem escrito. Parabéns!

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  2. Realmente, pela matéria, há uma linha bem tênue entre acumuladores e protetores. Prefiro me chamar de "ativista da causa animal". Quando se fala "protetor", logo parece uma pessoa pobre coitada, lutando sempre contra os moinhos de vento. E na verdade é, mas ao se auto denominar "ativista", já se passa a um degrau acima, porque há ativistas de várias causas, sendo a dos animais mais uma. Um ativista não parece um pobre coitado, como normalmente se referem aos protetores, sempre com uma nota de pena na voz. Há acumuladores e acumuladores. Na matéria, fala-se em "recolher, tratar e doar". Pois bem, gostaria que me ensinassem a fórmula mágica pra conseguir isso em TODOS os casos. Dependendo do animal, até pode acontecer, mas é muito raro, principalmente quando os animais recolhidos têm sequelas, são idosos, feios, não têm raça, são de porte grande (todo mundo só quer porte pequeno pra apartamento!!!). Eu gostaria de reduzir drasticamente os animais que tenho sob minha guarda, mas não consigo. E ainda aparecem casos de "vida e morte", que sou obrigada a recolher. Sim, também quero saber a fórmula pra passar ao lado de um animal em grande sofrimento, por vários motivos, e seguir adiante, sem sequer dar um atendimento. Ou quem sabe dar um atendimento local e ir embora? Pois é, todos os dias há apelos nas redes sociais de pessoas que, ao ver um animal em sofrimento, não recolhem, pra "não ficar com a casa cheia de animais 'indoáveis'". A partir de que ponto a pessoa é cruel ao abandonar esse animal em grande sofrimento? A partir de que ponto ela passa a ser acumuladora? A partir de que ponto a pessoa tenta doar seus animais, mas não aparecem candidatos à adoção? Pois é. Os meus animais estão à disposição para doação, basta aparecerem os candidatos. Inclusive, a última recolhida, uma cachorrinha porte médio, SRD, com problema de locomoção, desdentada, idosa, que apareceu no meu local de trabalho num dia de chuva, frio, couro-e-osso. Tenho vários animais. Porém, poderia eu deixá-la lá pra que seguisse adiante? Este é o problema: são sempre os mesmos que recolhem!!! Tem muuuuuita gente que se diz "protetora", posta em todos os grupos nas redes sociais, tem UM bicho em casa e já acha que tem demais, e pode passar ao lado de um animal à morte, tirar foto, gritar por socorro no facebook e dizer que "não posso recolher, tenho uma cachorra que não aceita outros animais". Pois é, pra mim, isso se chama CARA DE PAU !!! Por acaso uma pessoa, que tem pena mesmo, recolhe, leva pra sua casa, pergunta aos seus outros animais se eles "permitem" que ela leve mais um? É sempre um estresse, é sempre uma confusão, pode dar briga, enfim, a pessoa não pode deixar aquele animal ali, sob pena de não conseguir dormir, nem tirar aquele caso da cabeça. Como é que se faz pra conseguir não sentir tanta pena, não sentir vontade de recolher aquele animal, mesmo em momento de grande perigo? Como essas pessoas que são "protetoras" conseguem não virar "acumuladoras" ??? São muitas perguntas. Estamos no aguardo das respostas.

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