terça-feira, 29 de agosto de 2017

Os animais e a humanidade - Texto Servilio Branco


A cultura humana convencionou que os animais são seres inferiores e destituídos de alma. Arraigada de modo quase atávico, tais premissas transformaram os animais em vítimas milenares, pois são considerados coisas que estão na Terra apenas para nos servir.
Essa a repugnante lógica especista, que tudo justifica, seja morte, tortura ou escravidão. E nada é mais contraditório que nossa relação com os animais. O homem que maltrata, explora e abate inúmeras espécies de modo cruel é o mesmo que ao voltar pra casa afaga cães e gatos.
E e deveras aterrador sabermos que um dos pilares da economia mundial é o massacre diuturno e incessante de bilhões de seres sencientes.
E o que dizer do tráfico de animais, que movimenta anualmente mais de 15 bilhões de dólares. Nesse comércio nefasto milhares de seres morrem em condições deploráveis sem chegar ao consumidor final, que é tão execrável quanto àqueles que retiram os animais de seu habitat natural e os conduzem à morte ou ao suplício de uma vida reclusa.
O abate, a escravização, o tráfico e as demais formas de exploração animal obedecem à perversa lógica capitalista. Dá lucro? Então que importa se eles experimentam dor e angústia nas mãos de seres dotados de "alma", "inteligência" e criados "à imagem e semelhança de algum deus".
Nesse tétrico círculo vicioso animais são abatidos para servir ao paladar da esmagadora maioria da população mundial. Vacas são ordenhadas anos a fio pela insistência do homem em ingerir leite, ainda que prescinda desse item alimentar. Galinhas são confinadas durante anos em espaços que mal lhes permite mexer as asas, tudo para que o ser humano aprecie seus ovos. Peixes são capturado e mortos com métodos extremamente crueis.
Enquanto isso, nas câmaras de tortura denominadas por eufemismo de centros de pesquisa, animais de diversas espécies são submetidos a tormentos inimagináveis. Nesses vestíbulos do inferno pesquisadores lunáticos seguem com seus cruéis experimentos, desdenhando dos inúmeros métodos substitutivos hoje disponíveis.
Mas em que pese o panorama desolador, cresce a cada dia o contingente dos que acalentam o sonho de que a humanidade evolua no sentido de abolir tais atrocidades.
Para tanto há que se reconhecer que animais de todas as espécies tem o direito de viver integralmente de acordo com sua natureza.
Intuitivo que tal mudança de paradigma somente irá prosperar pela continua difusão desses conceitos em escala planetária, pois envolve uma modificação radical nos hábitos alimentares, filosóficos, culturais e religiosos.
Permeada por conflitos e violência extremos, a humanidade talvez encontre enfim um caminho rumo à evolução espiritual. Embora utópica hoje, a convivência pacífica de todas as criaturas que habitam o planeta poderá representar sim a redenção da raça humana.
Resta aguardar um despertar de consciências no qual o amor e o respeito por esses seres sejam a tônica, cujas almas puras nos nos inspiram amor e bondade. Como na música, a lição sabemos de cor, só nos resta aprender.
Servilio Branco - ativista e advogado
OAB/SP 119.218
brancolex@hotmail.com

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