quinta-feira, 29 de março de 2018

Era uma vez um coelhinho...A história de Joseph.


Ilustração Caio Stachi Boracin

Era uma vez um coelhinho... ... todo pequenininho, diferentinho, cheio de manchinhas lindas, que morava num pequeno cercado dentro de uma loja, com a vida valendo apenas R$ 80.
Ele foi escolhido a dedo por um casal que procurava um bichinho para criar em apartamento, e inocentemente escolheram um coelhinho, acreditando que não daria tanto trabalho ou despesas.

Este casal era apaixonado por animais, e pesquisou um pouco sobre esses orelhudos: não fazem barulho, não incomodam os vizinhos e são sociáveis e carinhosos. A princípio, pensaram em adoção, mas como estavam a caminho de uma enorme rede de petshop, decidiram que ali seria uma excelente opção, pois além do próprio bichinho poderiam comprar tudo o que ele precisava.

Entre tantos coelhinhos a serem vendidos, escolheram o menor, e deram à ele o nome de Joseph. Foram orientados a dar apenas ração, alfafa e a deixá-lo na gaiola por uma semana para que a sua adaptação fosse mais tranquila e a não oferecer folhas.

Chegando em casa, conversando com outros donos de coelhos, descobriram que ele poderia sim ser solto, então ele passava o dia pelo apartamento, e ia para a gaiola apenas a noite.

Porém, se passaram 3 dias após a chegada do Joseph e ele não comia absolutamente nada e não fazia cocô, o que deixou seus donos preocupados, levando-o de volta à loja em que foi comprado.
O vendedor examinou o animal superficialmente, e notou que o ânus do pequeno estava inflamado. E disse: “Não se preocupe. A gente troca ele pra você.”

A surpresa do casal era enorme. “Trocar? Não. Quero atendimento!”

Joseph e sua família humana
 O vendedor informou que na loja não havia um especialista, e depois da insistência dos novos donos, levou-os para conversar com a recepcionista da clínica veterinária que ficava na loja. Ali, iniciava um choque com a realidade dos animais comercializados: primeiro, queriam trocar o coelho. Segundo, vendem o animal, mas não existe ninguém disponível para orientar apropriadamente.

 A recepcionista informou que não poderia ajudá-los, mas indicou uma veterinária especializada que poderia atendê-los naquele dia. Chegando lá, a equipe se assustou com o seu tamanho. Estimaram que ele tinha aproximadamente 40 dias, foi desmamado antes do tempo, e que ele não conseguia comer simplesmente porque ele não SABIA COMO COMER. Por isso ele ainda não estava comendo a ração.

 Ela perguntou sobre o que ele comia, e contrariando todas as orientações das pessoas inexperientes dadas na loja, pegou uma folha escura, que o pequeno começou a comer imediatamente.

O casal informou que além dele não comer, ele também não estava fazendo cocô. Ela afirmou que era grave, medicou, e logo o pequeno Joseph voltou ao normal, cresceu, e virou uma “estrela” no Instagram.

Nesse primeiro contato com um veterinário de silvestres foi gasto um valor 5X maior que o que pagaram pelo pequeno Joseph. Mas isso não importava, o que tivesse que ser feito para ele ficar bem seria feito.

Eles entraram em contato com a loja depois disso informando o que foi passado pela profissional que os atendeu: que ele havia sido desmamado cedo, pediram uma ajuda com o valor gasto (afinal, o animal havia sido vendido doente), mas a loja se recusou afirmando que seus criadores são idôneos, e que não ajudariam com nada porque haviam oferecido a troca.

Após bastante tempo com o Joseph ficando famoso com a sua fofura em redes sociais, seus donos começaram a reparar que sua boquinha nunca fechava. Aproveitaram que iam viajar, e o deixaram hospedado numa clínica de animais silvestres e pediram que o examinassem. Foi tirada uma radiografia e foi constatado que ele tinha um sério problema na arcada dentária: seus dentes estavam completamente tortos e havia um abscesso enorme no queixo.

A equipe que prestou o atendimento ficou surpresa, porque o desconforto era tão grande, que ele não deveria estar comendo há dias. O incrível é que ele estava assintomático!

O Joseph fez então a sua primeira cirurgia, mas o abscesso já estava nos ossos. Foi feito um procedimento chamado marsupialização (o abscesso foi retirado e a cirurgia era higienizada de dentro pra fora), e depois deste, mais de dez procedimentos foram realizados no pequeno orelhudo.

Já era tarde. A infecção havia se alastrado de tal forma, que os dentes caíram quase todos. Seu maxilar ficou deformado. Comia apenas papinha. Ficou 4 meses indo diariamente na clínica, mas não havia mais nada que pudesse ser feito. A infecção se espalhou e foi para o pulmão. Ele não andava e nem comia mais. Morreu em casa.

Os veterinários informaram ao casal que a chance da causa do problema do Joseph ser genético eram muito grandes, pois era uma característica de crias consanguíneas. Os reprodutores não se importam em separar os coelhos após as crias, e esse é o resultado de uma criação irresponsável e dos criadores tão idôneos que as lojas defendem.

O Joseph viveu pouco, mas teve a sorte de ser escolhido a dedo por um casal que nunca desistiu. Lutaram com ele até o fim, o amaram, respeitaram, e ele partiu em casa, com a sua família que tanto batalhou para que ele vivesse.

 Antes de comprar um coelho, pense. Isso poderia ter acontecido com você.

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O Joseph foi comprado e cuidado com muito carinho pelo Casal Mayra e Caio, que hoje são nada menos do que os adotantes da nossa pequena Abóbora. Eles arrecadaram dinheiro para o seu tratamento vendendo as ilustrações que o Caio hoje em dia tão gentilmente ofereceu para o projeto. Para conhecer melhor o Joseph e acompanhar passo a passo do tratamento dele, dá uma olhadinha no instagran @ocoelhojoseph

Fonte: https://goo.gl/q1Fk92

Nota:
Há anos o movimento de defesa animal faz campanhas para que as crianças não sejam presenteadas com coelhos ou nem um tipo de roedor durante o período da Páscoa. Porém os comerciantes estimulam essa venda principalmente nas grandes redes de pet shops. 
Evitam contar que coelhos precisam de cuidados intensos muitas vezes, que roem fios, madeira, fibras e tecidos. 
Evitam falar que o "presente" poderá viver 10 anos. 
Que não são como cães e gatos que aprendem a fazer suas necessidades em um lugar específico. Que muitas vezes podem ter alguma doença genética em decorrência do cruzamento indiscriminado ou mesmo de deficiência em sua alimentação. 
O resultado é que após passada a fase da graça, da surpresa, da novidade os coelhos são jogados  nos parques, praças, embaixo de viadutos e até mesmo em lixeiras. 
Chances de sobrevivência? 
Praticamente nenhuma. Muitos irão morrer na boca de algum cachorro, ou ser pego por alguém que vai utilizá-los como comida de cobra, fome ou alguma outra forma de crueldade que é melhor a gente nem descrever aqui para não dar ideia.
Enfim. Bicho nenhum deve ser dado como presente pois vida deve ser respeitada. 
Se quiser mesmo presentear uma criança com um coelhinho compre um de pelúcia. 
Tenha compaixão. 



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